A pausa

Ha muito tempo eu adotei a pausa na minha vida. Me permito tê-las, ja que sou privilegiada o suficiente pra poder pausar.

Nessa ultima que fiz — apos a palhaçada do doutorado, o encontro do emprego por seis meses, o dinheiro entrando — me perguntei “estou embrutecendo?”. Dei a mim mesma o direito de um mês inteiro sem pensar, apenas existir, fazer o das 9 às 5 e receber meu salario e botar dinheiro na poupança — caso outra pausa se faça necessaria.

pois bem. No segundo mês eu ainda estava pausada, ainda nao tinha ativado, o estar embrutecendo. Porque nao consigo, literalmente zero capacidade de criar algo, sobretudo no âmbito acadêmico, esses tijolos da minha forma durante, prai, quase uma década.

e ai eu vi que finalmente houve espaço pra conceber uma conversa necessaria com meu namorado. que uma força emocional tinha se instalado em mim. isso é criaçao, me disse.

mas e o projeto do doutorado, que eu nao quero deixar morrer, mas nao aguento nem olhar? bem, tive de deixa-lo de lado, também. Pra onde ele poderia me levar?, ja que, tao amado, acabou sendo rejeitado, eu e ele, ele abraçado contra o meu peito, nos dois porta afora.

pois bem, a mim de parar de insistir com ele nas portas da academia e leva-lo além. acredito nele, precisei de pausa, mas do mesmo jeito que *sei* que vou me refazer com tijolos outros, historias outras, vou fazê-lo acontecer, também.

Minha planta trepadeira brotou um outro talo e vai rendando, enrendando. Como fazem as trepadeiras, procura onde se apoiar de maneira randômica. Atenta aos sinais.

E eu, que reabri meus olhos para os sinais e sai da minha hibernação, me vi enxergar possibilidades de primeiros passos, de movimento, de ação. De ação, quiça, concreta, para que uma perspectiva se desenhe. Quando a gente ta em pausa, em pausa mesmo, nao tem perspectiva. E o sonho — que é perspectiva com grandes esperanças e afeto — é uma constante na vida, tao concreta e definida quanto outra coisa qualquer.

Hoje, ainda dentro de minha pausa, quero retomar esse sonho, sob outra perspectiva. Dizer pra ele “você vai existir sim, mas sob uma perspectiva ainda melhor” e botar pra foder. Quando eu tiver energia, quando eu souber pra onde apontar, quem federar em torno desse projeto. Quando eu reflorescer e cobrir de verde toda a estrutura que eu construi, porque se a gente pausa é porque é ativo, sim, mesmo que se pense que nao.

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