Morgenstern

Despertou com o toque dela em sua pele, sua mão a esbarrar em seu braço. Ainda não havia se acostumado com aquela companhia; havia sido aquela a primeira noite que passavam juntos.

Por algum tempo, sequer cogitara ter alguém com quem dividir surpresas, contentamentos. Alguém a tomar-lhe a mão e desbravar a imensidão de possibilidades que havia sido desenhada só para eles, e mais ninguém.

Foi absorto neste pensamento que levantou-se e vagou dois ou três passos antes que seu olhar recaísse novamente nela. Perfeita, a ressonar sob as estrelas. O peito a mover-se rapidamente: concebia seu primeiro sonho. Alegrou-se ainda mais de tê-la consigo. Conseguia apenas imaginar como seriam suas vidas juntos.

A noite ainda estava ali e ele vagarosamente tomava dois ou três passos para longe da macieira sob a qual dormiam. Os animais que viviam ali próximo também encontravam-se dormindo, e não se deixavam perturbar por sua perambulação. Foi vagando assim, trôpego e sonolento, que aproximou-se da beira do mundo.

Pois o mundo ainda era pequeno. Da macieira para trás, sabia que havia alguns poucos minutos de caminhada, mas nunca se interessara em lá vagar. E donde estava, podia ver o fim do mar que banhava seus pés e se desfazia em névoa; mais adiante, apenas as estrelas de Deus.

Gostava de, por vezes, ir até ali, banhar-se enquanto o Sol vinha a inundar tudo com sua luz. Era o que pretendia fazer, não fosse algo tão brilhante quanto surgir no firmamento. Não sabia o que era aquilo. Durante a noite, pensara ter sonhado com trovões. Talvez tivesse sido verdade; Mas o chão não estava molhado. A luz ficava cada vez mais forte, e desenhava-se cada vez mais próxima e em queda. O que seria aquilo?

Viu então que o Sol surgiu enfim por detrás da névoa, e não pode mais acompanhar aquele brilho. Não incomodou-se; a estrela da manhã ali estava a receber-lhe com sua luz.

Banhou-se e sentiu-se como abençoado. Virou-se e pode ver que ela havia finalmente acordado. Em pé junto à árvore, mordia uma maçã e, quando viu que estava sendo observada, sorriu para ele. Ele sorriu, satisfeito. “A vida é boa”, pensou.

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